sábado, 2 de abril de 2011

A Bruxa Enquanto Organismo Social.

"Bruxas são por natureza más"; - Esta sempre foi a definição daqueles que as perseguiam... "Bruxas são boas, pois adoram e preservam a natureza", - Esta é uma definição comum entre os seguidores modernos da bruxaria. Me pergunto: o que uma bruxa diria sobre sua própria natureza? Ou, sobre a natureza das coisas?

A bruxaria é vista de diferentes formas entre os próprios bruxos e toda essa divergência existe porque poucos são aqueles que esquecem os rótulos, as definições, as imposições e buscam, verdadeiramente, a essência sábia contida no ato de ser e estar sendo uma bruxa. Como curar alguém se você não reconhece o mal que causa a doença? Como lançar uma benção se você não sabe distingui-la da maldição? Ora, as bruxas sempre foram seres plenos, capazes de reconhecer a natureza do mundo dentro de si mesmas, assim como o contrário.

Dizem que é possível escolher ser ou não uma bruxa, não sei se concordo, mas, se for verdade, antes de definirem como as bruxas são ou o que elas fazem, não é preciso ser uma? Como é possível ler sobre como uma bruxa é e achar que por meio dessa leitura se chega a compreensão? Daí se torna tão difícil saber quem elas realmente são, pois qualquer um pode falar qualquer coisa e se você não for capaz de pensar e viver por si mesmo, jamais enxergará a bruxa que existe, ou não, dentro de você.

Dizem os livros de história que as bruxas viviam à margem da sociedade, seja no campo, seja nas periferias das cidades, a razão só se pode especular. Muitos dizem que elas precisavam de espaço para suas ervas e danças, outros que como eram rejeitadas pelas lideranças se afastavam temendo repressões, outros ainda, afirmam que era para criar um clima de mistério que aumentava sua clientela. Seja como for, as bruxas nunca foram tidas como seres plenamente sociais, engajadas em movimentos populares ou defensoras dos oprimidos como vemos hoje com associações, igrejas, federações e conselhos.

Enquanto as bruxas do passado eram livres para lançar seus feitiços, dançar com seus espíritos, jogar suas cartas e assustar seus vizinhos, as de hoje dependem do aval de líderes - que se auto-proclamaram - e que dizem serem os únicos capazes de definir o que é ou não parte da bruxaria e o que elas podem ou não fazer de suas vidas. Esses movimentos, coisa típica do mundo moderno, são extremamente curiosos e só existem aqui, nesse mundinho virtual onde perdemos nosso precioso tempo por falta de um lazer melhor no mundo violento lá de fora.

Uma vez vi uma senhora batendo com um galho fino de árvore no neto, ele ria e falava que a avó estava maluca. Ela dizia que "os loucos são os únicos sóbrios nesse mundo" e quanto mais ele reclamava, mas ela batia. Eu achei que ele deveria ter feito alguma estripulia e que ela o estava castigando, mas depois ela pegou uma garrafa de cerveja e mandou o menino beber de um gole o que quer que estivesse lá dentro, parecia ser ruim, porque pela cara do garoto ele estava esperando a vó virar as costas para vomitar. Ao terminar de beber ela segurou seu rosto, fez o sinal da cruz em sua testa e disse que agora ele ia ficar curado, do que, eu nunca soube, mas entendi que eu havia acabado de presenciar um benzimento.

Naquele dia quando voltei pra casa uma idéia curiosa passou em minha mente, se alguém me perguntasse o que eu havia visto na rua naquele dia eu poderia dizer que vi uma avó, com suas crenças e antigos costumes, tentando curar o neto, mas se eu tivesse seguido meu rumo e só visto a senhora enquanto ela batia no moleque com o galho, eu teria respondido que vi uma avó batendo em um neto para puni-lo por algo. Tudo na vida é tão variável, o tempo transforma aquilo que observamos, mas também a nós mesmos enquanto observadores.

Hoje me pergunto sobre as observações que foram, são e serão feitas quanto as bruxas, será que algum dia saberemos onde elas ficam na grade social? Se entre a benção ou a maldição? Se à margem ou no centro? Sabe, um pássaro certa vez cantou que elas não estão em nenhum desses lugares, mas em todos eles, tudo depende da ocasião.

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