quinta-feira, 5 de julho de 2012

A Relevância de Encontros Públicos.

Eventos Públicos: tema da semana entre a chamada "comunidade neopagã brasileira", críticas a esmo foram feitas a reuniões públicas e gratuitas que há anos se perpetuam ao redor do mundo com o objetivo de agregar pessoas para assistir palestras, danças, exposições de utensílios, artesanatos e outras coisas ligadas a esse grupo social. Essas críticas que não partem só de um individuo, mas vem ao longo dos anos se amontoando, não foram bem recebidas dessa vez, pois apelou-se ao se generalizar dizendo que frequentadores costumam usar drogas, que são em sua maioria desempregados (cade fonte do IBGE?rs) ou ainda que há um risco enorme para a vida ao frequentar tais atividades. Essa acidez desproporcional levou a uma união jamais vista entre instituições pagãs tupiniquins que fizeram a cena política, criaram uma carta de repúdio e estão discutindo o assunto nas redes sociais, principalmente porque o "acusador" é uma figura já conhecida no meio que vem criticando e defendendo suas verdades sem dialogar com ninguém e com argumentos tidos por muitos como fracos.

Eu não tenho nada a ver com isso, mas achei interessante comentar que há crítica, há reclamação quanto a crítica, mas não há esclarecimentos ou informações sobre atitudes a serem tomadas para evitar todo esse desgaste. Como bom observador há muitos anos tenho frequentado eventos (pagos e gratuitos) ligados as diversas vertentes religiosas neopagãs, bem como em todos aqueles que se propõem debater sobre bruxaria ou ao menos Wicca. Poderia tecer por horas críticas a todos eles, mas vou me ater a soluções e opiniões do porque são interessantes e o que alguém que nunca participou deve esperar, pois considero isso mais útil.

Hoje no Brasil existem grupos já consolidados no ramo dessas atividades (a maioria assinou a tal nota), qualquer busca simples pode levá-lo aos sites e representantes deles. Esses eventos quando gratuitos costumam ser feitos em parques, praças públicas e praias, ambientes comuns frequentados por todo cidadão. E quando pagos costumam ocorrer em hotéis, sítios/chácaras, ou residência dos organizadores. Envolvem principalmente palestras e debates. As figuras mais notórias como escritores, profissionais holísticos,  líderes de tradições, sacerdotes e professores são convidados a participar/palestrar gratuitamente ou pagando e assim fazem, alguns motivados pelo evento em si, já que ele permite conhecer pessoas, ensinar e agregar seu grupo religioso; outros vão para divulgar seus livros, eventos, escolas, lojas e etc.; e alguns (os mais curiosos) vão para chamar atenção para si e seus grupos na tentativa de adquirir adeptos, uma forma de alimentar nosso bom e velho ego.

Seja pago ou gratuito o evento contará com participantes e palestrantes dos mais variados, cada um com suas próprias razões para estar ali. O que torna possível a qualidade destes eventos é a escolha dos locais mais seguros e cômodos, bem como das pessoas reconhecidamente mais honestas para debater, mas dificilmente isso ocorrerá sem intempéries todas as vezes, afinal falamos de eventos mensais que ocorrem há anos. Não se assuste se ouvir pessoas defendendo bobagens em suas exposições ou ainda se topar com um individuo estranho vestido a la Harry Potter. Tenha bom senso e humor, isso acontece! Por melhor que seja a organização, não dá para controlar tudo. Você pode evitar dores de cabeça maiores pesquisando sobre o evento, seus palestrantes, seus organizadores, olhando as fotos das reuniões anteriores, falando pela web com frequentadores e preferencialmente indo acompanhado, até porque se não gostar basta sair e ir tomar uma cerveja com o amigo para não dar viagem perdida.

Se você é menor recomendo sumariamente que leve seus pais ou algum responsável mais velho, muitos desses eventos deixam essa necessidade explícita nas regras, mas outros não. E por melhor que seja a sua pesquisa nunca é bom ir a um lugar com pessoas desconhecidas sozinho, prevenção nunca é demais. E porque você iria a um evento desses? As razões são variadas: para aprender mais sobre um tema que é discutido, conhecer outras pessoas que acreditam nas mesmas coisas que você, pegar um autografo do seu escritor predileto, comprar ferramentas que não acha na loja da esquina ou simplesmente para ter uma forma de lazer junto a outros membros da sua comunidade religiosa. Opa! Não posso esquecer! Você também pode ir para aprender a cantar e dançar musiquinhas típicas, receber conselhos (alguns bizarros, mas o que vale é a intenção), tirar dúvidas e ganhar brindes de comidas e bebidas diferentes como hidromel (é gostoso).

Se no fim das contas você achar que não valeu a pena, experimente ser uma pessoa legal e converse com os organizadores, diga porque não gostou e dê sugestões ligadas ao que você esperava ver. Criticar é fácil demais, ajudar a melhorar as coisas ou pelo menos respeitar quem gosta dessas interações é que mostra seu caráter e responsabilidade frente a sua fé. Outra coisa importante é observar como as pessoas se comportam, pois se você for virar frequentador agindo assim pode perceber ao lado de quem você não deve sentar. Eu, por exemplo, fujo das chaminés (fumantes), dos grupinhos adolescentes (porque dão gargalhadas a toa, tem espasmos e me assustam) e dos fofoqueiros (porque não me deixam ouvir nada de tanto que falam). Apesar que esses últimos se você estiver interessado em notícias quanto a quem anda namorando ou brigando com quem eles vão ser praticamente um Google ambulante.

Recomendo a participação para tirar suas próprias conclusões, nunca tive problemas tirando os comentários já feitos, nunca vi nada que colocasse minha vida em risco ou que me causasse qualquer problema, aprendi bastante e, principalmente, me diverti muito saindo da frente do computador para celebrar minhas crenças. Se um dia ver atos ilícitos ou perceber algum perigo nessas reuniões, lembre-se de ser cidadão e avisar as autoridades e também avisar os organizadores (caso eles não sejam os envolvidos), os amigos e os demais grupos sobre esse em específico. Assim será possível melhorar essas atividades que fazem parte de qualquer comunidade, porque não faria da neopagã?

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Onde está o paganismo?

- Eu sou pagão!
[Falou um rapaz pela internet... vive em um apartamento no centro da grande São Paulo e o mais próximo que chegou de uma "floresta" foi o Ibirapuera, onde gosta de ler]

- E eu digo que você não é, pois não tem nenhum contato com o campo! Eu, ao contrário, sou!
[Falou um rapaz pela internet... vive no interior urbanizado do Rio de Janeiro, é vegetariano e faz trilhas periódicas]

Com quem você concorda meu ilustre leitor? Pois eu não faço ideia de qual dos dois é ou não pagão, já que nenhuma das informações dadas foi suficiente para chegar a essa conclusão. A única coisa que eu sei é que ambos tentam ser algo que o outro não é, seja por conflitos sócio-culturais (campo x metrópole / RJ x SP / onívoro x vegetariano), seja por pura birra. "Birra", gíria que fala muito sobre o comportamento da dita sociedade pagã, sempre temos alvos de fofocas, risos e esculhambações. O tal fulano que não sabe o que fala, pois nós sabemos. Se identificou? Eu também.

....

O termo paganismo sofre com apropriações, atualmente é um conceito abrangente para designar religiões com cultos voltados à natureza, independente das disparidades. O "ser pagão" é um título e uma bandeira a ser defendida em oposição a qualquer coisa não pagã, mesmo que o próprio pagão não saiba se definir muito bem e precise criar neologismos do tipo "neopagão". Já era difícil compreender como ser o pagão antigo, imagine ser o novo. Dizem que o paganismo é um ressurgimento de antigas fés destruídas com o advento do Cristianismo, o que imputa aos "novos pagãos" um revanchismo idiota.

Eu sou da escola que define ao homem que a fé é uma manifestação da alma, não dos grupos sociais aos quais ele pertence. Que - ser ou não algo - não depende de como os outros te enxergam, mas de como você enxerga a si. E se o paganismo for uma definição como o nome sugere; para o homem que vive do campo, que tem como sangue a própria terra, então não é o grupo ou a religião a qual pertença que ditará se é ou não pagão, mas sua essência, como se sente quando pisa no solo, como vê os seres a sua volta, o que enxerga ao se olhar no espelho e principalmente de quem se sente filho-irmão.

Dizem que paganismo é o oposto de cristianismo, ora o cristianismo é a crença em cristo, crer em cristo já lhe torna cristão, mesmo que você não siga nada do que é imposto por pastores, rabinos ou padres. Uma senhora cristã que mora numa vila do interior, que planta, colhe, cura com suas ervas (que sempre brotam mesmo nos piores tempos devido a sua "mão boa"), aquela velha que salva uma planta conversando, que alimenta bichos selvagens como se fossem dóceis, que sabe se vai chover ao olhar para o céu e que respeita a floresta à noite, pois sabe que espíritos rondam o lugar, não é pagã só porque crê em cristo? Esse também não é um deus antigo de tribos nômades e rurais? E um rapaz que só anda de carro, só come coisas industrializadas, se diverte no aconchego do seu quarto jogando vídeo games e que fica se coçando inteiro se for em qualquer jardim é pagão só porque é membro de uma religião que cultua deuses de povos anteriores ao cristianismo? Tem alguma coisa estranha nisso.

Ao mesmo tempo me questiono: Só é pagão quem vive no campo? Ou o respeito e amor pela natureza como um todo, seja ela de barro ou de cimento, de carne ou de casca, é um fator importante? Nosso comportamento em relação ao meio em que vivemos, a percepção dos seres a nossa volta e o modo como levamos nossa vida não são importantes para definir quem somos? O gêmeo José que mora no campo deixa de ser irmão do gêmeo Antônio que mora na cidade? O Paganismo é algo assim tão banal que sirva apenas para limitar, desagregar e afastar pessoas através do "ser ou não isso ou aquilo"? Existem metas a atingir para ser mais pagão que alguém? Ou o amor pelo próprio planeta enxergando-o como um ser vivo, o respeito pelos animais (humanos incluídos) e a aceitação de existência do mundo espiritual já não são suficientes e tonam todos pagãos em igualdade?

Eu tenho que ter uma religião para ser pagão?
Eu tenho que viver no campo para ser pagão?
Eu tenho que negar as vantagens da tecnologia para ser pagão?
Eu tenho que caçar meu próprio alimento para ser pagão?
Eu tenho que conhecer e saber mexer com plantas para ser pagão?
Eu tenho que me vestir como um Hippie para ser pagão?
Eu tenho que ser politeísta para ser pagão?
Eu tenho que ser vegetariano para ser pagão?

E se eu não "tiver" uma ou outra dessas eu sou menos pagão que alguém? Eu tenho que CRER em algo ou eu tenho que SER algo? São minhas atitudes ou minhas ideologias que me tornam pagão? Podem parecer perguntas bobas, talvez sejam, mas elas tem rondado minha mente nos últimos tempos, principalmente porque tem gente que diz que para ser bruxo tem que ser pagão, quando eu defenderia que um bruxo ser pagão faz sentido, mas não exclui outras possibilidades. Vou continuar pensando...

...

- Amo e respeito minha própria natureza e toda aquela que encontro a minha volta, seja de barro ou cimento. Não se trata de um título ou uma bandeira que eu levanto, não se trata de fé, mas de algo que não pode ser retirado de mim, é minha essência, meu próprio sangue. Se eu sou pagão? Não importa, não preciso de definições para ser o que sou.